Uma simples ligação feita pela telefonista Maria de Fátima, informou que o Açude Mãe D’água, de Campo Redondo, estava próximo ao rompimento e alertou o prefeito Hildebrando Teixeira, em Santa Cruz, e fez com que milhares de vidas fossem salvas.
Cortada pela BR 226, a cidade de Campo Redondo está localizada a 135 km de Natal, contando com um clima semi-árido durante a maior parte do ano. Porém, no mês de junho, as festas juninas esquentam o frio aconchegante que é soprado da Serra do Doutor, obrigando as pessoas a usarem casacos durante a noite.
As cenas da tragédia do dia 1º de abril de 1981, que desabrigou cinco mil pessoas e deixou o Estado do RN sem luz e água por cinco dias, ainda permanece na memória dos moradores do município de Campo Redondo e Santa Cruz.
Foram momentos de agonia que marcou as vidas dos cidadãos e fez heroína uma telefonista: Maria de Fátima da Silva, que fez contatos com o prefeito da época, Hildebrando Teixeira, para esvaziar a cidade antes do rompimento da barragem de Campo Redondo, distante 25 km de Santa Cruz, salvando milhares de pessoas.
Apesar de ser o dia 1º de abril, conhecido como o dia nacional da mentira, o alerta da telefonista deu resultado e carros de som anunciaram a ameaça da enchente. Os moradores deixaram para trás suas casas e foram abrigados em prédios públicos ou regiões altas da cidade. Dentro de três horas a enxurrada das águas devastaria a cidade.
Conhecida como a maior tragédia natural do Estado, a enxurrada de 1º de abril de 1981 contabilizou seis mortes e 1.044 casas destruídas em SantaCruz. A correnteza das águas percorreu ainda cerca de 80 km (equivalente a distância entre Natal e Tangará) e atingiu outros quatro municípios.
Com 14 torres da rede de energia da Chesf derrubados, o Rio Grande do Norte permaneceu uma semana às escuras. Em Natal, o único hospital com gerador na época era o Walfredo Gurgel. Supermercados fechavam mais cedo com medo de assaltos. Sem energia, o bombeamento para abastecimento de água também foi comprometido.
O então governador Lavoisier Maia decretou estado de calamidade pública em toda a região do Trairi e levou fotos da tragédia ao presidente da República, João Figueiredo. O ministro do Interior na época, Mário Andreazza confidenciou ao prefeito de Santa Cruz só ter visto cena igual em guerra.
Com a solidariedade de todos, um grande mutirão envolveu as instituições públicas e privadas, ONGs, voluntários, igreja e as próprias vítimas. As três esferas do poder executivo esqueceram diferenças partidárias e também se uniram para reconstruir as cidades atingidas. As doações chegavam de todas as regiões do Brasil.
Fonte: George Araújo
Um dia inesquecível para duas cidades do trairi Parecia uma brincadeira, um conto de fadas, uma mentira contada por uma pessoa que se divertia numa data considerada para muitos o dia da mentira. Era o dia 1º de abril de 1981 numa pequena e pacata cidade do interior do Rio Grande do Norte, Campo Redondo. Um telefonema parecia não ser real, mera fantasia neste dia chuvoso, que trazia em sua memória um fato, um acontecimento histórico. Uma jovem senhora, telefonista Fátima Silva no seu horário de trabalho daquele dia memorável jamais poderia imaginar que seria naquela ocasião, uma heroína, uma solução para muitas vidas que estaria em perigo pelas águas que corriam no leito do rio trairi. Por volta das 17:30h do dia 1º de abril de 1981, um telefonema dirigido ao prefeito Hildebrando da principal cidade da região trairi seria o escape para milhares de vidas que seriam ceifadas pelo poder devastador das águas torrenciais que caíam sobre toda região trairi, e em especial nos afluentes do rio que enchiam rapidamente o açude mãe d’água em Campo Redondo, que o levou a sua capacidade máxima, não suportando tanta água, provocando um grande arrombamento no centro de sua parede principal. Após o grande estouro da parede, as águas desceram no leito do rio com grande poder de destruição, derrubando árvores, inundando ruas, derrubando paredes e levando tudo que estava a sua frente, até mesmo um grande pé de trapiá que existia no seu caminho não suportou a força da natureza, levando-a de encontro a única ponte de acesso a cidade de Campo Redondo, jogando-a a quase cinquenta metros de distância, pela sua pressão e força que se chocava ao encontro dela. Toneladas de concretos não puderam conter a força das águas do dia 1º de abril de 1981. Os braços poderosos das águas ergueram-na como se fosse um peso qualquer. Diante de tudo isso, a cidade se mobiliza, as pessoas fogem de suas casas, tentam salvar o que podem, abandonam bens, animais são levados rio abaixo, pessoas se salvam agarradas em coqueiros, a inundação invade várias ruas, pessoas apavoradas, desabrigadas, sem rumo, sem teto. As águas desciam rio trairi com sua força, sua braveza a procura de novas vítimas, mas o povo resiste a sua grande fúria e sobrevive. Em Santa Cruz, o alerta já foi dado pela nossa heroína, a telefonista que mesmo desacreditada, insistiu tanto, que as autoridades resolveram avisar a população do perigo iminente, e assim famílias foram salvas de uma grande tragédia. Uma verdade, que poderia ser mentira, salvou milhares de pessoas na região trairi: Campo Redondo e Santa Cruz jamais esquecerá esta data memorável de 1º de abril de 1981. Por George Araújo1º de abril de 2013